O devorador de inimigos

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Passando pelas ruas, montado em seu cavalo, ele provocava comentários: “É o jagunço!”, “O demônio em pele de gente!”, “O Canibal!”. Foi assim que Deroci Laurindo da Silva, o Jorge Come-Cru, ganhou fama de pistoleiro sanguinário no Noroeste do Espírito Santo, na década de 50
Descendente de índios Pojixás, aprendeu desde muito cedo que seus inimigos deveriam ter a língua arrancada e, para isso, deslocava o maxilar da vítima. Ele também descarnava a pessoa, comendo-a viva. Na visão da tribo, com esse ritual, era possível absorver a força do inimigo
Após sua tribo ser dizimada pela varíola, ainda criança, Come-Cru ficou sob os cuidados do Frei Inocêncio de Comiso. Por sua bravura e lealdade, ele foi apresentado ao baiano Udelino Alves de Matos, que aproveitando-se das constantes brigas territoriais entre Minas Gerais e Espírito Santo, tentou criar o Estado União de Jeová*, pegando parte dos dois estados
*União de Jeová foi um Estado criado na década de 50, na região do Contestado. udelino recorreu ao presidente Getúlio Vargas com o argumento de que juntando os territórios acabaria com as brigas
Por desobedecer a ordem de Udelino que proibia propriedades com mais que 70 hectares, o gerente de uma fazenda e a esposa foram capturados por Come-Cru. Ele matou a moça a tiros na frente do marido, amarrou o homem nu, de costas para o corpo da mulher, e jogou os dois em um chiqueiro com porcos famintos
Após a moça com quem Udelino queria casar-se inventar que havia sido estuprada pelo cigano Tobias Kambulin, Come-Cru praticou outra barbaridade: a vítima foi pendurada nua, de cabeça para baixo enquanto sofreu torturas por uma noite inteira. Só depois, Tobias foi preso
Além de Tobias, todo o grupo de ciganos sofreu represálias. Inclusive a avó dele, que foi esquartejada. Come-Cru acreditava que a anciã poderia jogar um feitiço contra ele. Os pedaços do corpo dela foram pendurados na trilha que dava acesso ao acampamento. Cena que abalou profundamente toda a comunidade cigana
Mas uma moça conseguiu despertar o amor no coração violento de Come-Cru. O problema é que Anália era mulher de Anízio, jagunço de Udelino. Em 1952, Udelino presenteou Anízio com um violão, que o estreou tocando Nervos de Aço, de Lupicínio Rodrigues. Quem estava na roda de violão logo percebeu que ele já desconfiava do romance entre Anália e Come-Cru
Anízio espancou Anália e virou informante da polícia. A mulher passou a viver com Jorge e foi detida pela polícia, que estava atrás do jagunço. Para libertar Anália, o Pojixá invadiu a cadeia e rendeu dois policiais. ele ainda amarrou e arrastou os policiais até a feira da região, quebrou os joelhos com uma marreta, deslocou o queixo e cortou a língua deles
Udelino contava com a ajuda do carteiro Quincas Canudinho, andarilho que levava notícias sobre ele à população. Nessa época, a polícia já tentava dar fim ao novo estado a base de violência. Canudinho foi capturado pelos policiais e torturado para contar as estratégias e esconderijos do líder baiano
Com medo que Canudinho falasse ainda mais, o baiano pediu que Come-Cru desse um jeito para que o carteiro não falasse o que via, mas pediu que ele não fosse morto. Literal como era, Come-Cru perfurou os olhos de Quincas para que ele não visse as estratégias e esconderijos do bando
Anos após descobrir que toda história de estupro era mentira, Jorge Come-Cru resolveu vingar-se da moça e de sua família. Primeiro ele matou a tiros o homem que teve um caso com a noiva de Udelino
Ao localizar a moça, ordenou que tirasse a roupa e seguisse o seu cavalo na direção da saída da cidade, humilhando-a na frente de toda a região. Mas ele deparou-se com o cigano Tobias Kambulim, que estava em tocaia e matou Jorge Come-Cru a tiros. Esse foi o início do fim dos homens de Udelino
FICHA TÉCNICA Ilustração:
Arabson design/animação
Marcelo Franco
reportagem
Elis Carvalho Sullivan Silva
Edição visual: Adriana Rios Edição de reportagem: Joyce Meriguetti e Érica Vaz Pesquisa: Cedoc - Rede Gazeta Roteiro: André Félix Sound designer: Renan Efgen Faé Produção de áudio: Jonas Braun Narração: Geraldo Nascimento Câmera e som: Antonio Cezar Martins Edição de vídeo: Iza Rosenberg Coordenação: Marketing Rede Gazeta